domingo, 18 de outubro de 2009

vão

vão me despir,
me abrir, me cozinhar
me engolir, morder
me mastigar
vão me beber,
vão me sorver, se embebedar
me estudar, me resolver
vão me adorar
e me parir, me socorrer
me aninhar
vão me abortar
me odiar, vão me bater
me apagar
me repelir, me rechaçar
fugir de mim
me adotar
me enlouquecer, me traduzir
vão me perseguir, me depredar
vão me culpar
me esquecer, vão me deixar

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Arte de te Consumir

Para Civone,

Vou me abuletar na sua língua.
Seja minha íngua,
Ferida aberta, cicatriz
ou queimadura, me faça infeliz
Seja impura!
Seja minha cura, minha doença
me seja imensa -
me diminua, me pise, me cuspa
e volte nua...
Deite com a lua,
com a rua, e com o espectro de quais outros homens
de quem tiveres fome.
Quiero quedar-me exangüe,
fugir-te, despir-me de ti...
Quero que tu te arranhes,
te danes, me dane...
Quero que tu me ames
e que eu tente fugir.
Preciso não conseguir!
Quero poder cheirar-te
até viciar-me
na arte de te consumir!
Da mesma forma de antes
que você seja meu câncer,
me roce, me coce e se aposse de mim!

domingo, 29 de março de 2009

Destilada Solidão

Outro dia um velho amigo encontrou-me no salão
Disse-me que eu estava demasiado bêbado
Suplicou que eu fosse embora
Disse me querer privar de confusão
Eu - pouco levando em consideração -
Voltei-me para os casais apaixonados
Rodopiando levemente no tablado
De repente, fui ao chão
Num fluir inconsciente
quase impertinente
perguntei para o garçom
Se o que ele me servia
era vodca ou melancolia
Perguntei-lhe - meio ébrio, meio não -
Se a minha embriaguez
Tinha se dado sem razão
Se o que me derrubara fora cachaça
ou dose nevrálgica de destilada solidão


quarta-feira, 25 de março de 2009

Abrigo-me em casa sem paredes e teto

Que fique claro de mim tão somente o inverso
Para que acoite em nu desvão meus versos certos
Pois quando me minto enganando a ti o intento
Faço do peito leito para meus lamentos

E chego a quase enlouquecer de embriaguez
Lânguida lâmina afiada que me toma e me corta a tez
Se mais me entrego ao teu afã, teus devaneios
Perco-me inteira e tu, sem dó, dá-me volteios

Por mim, de ti, promovo uma fuga louca
Andando em círculos, com teu cheiro em minha roupa
Esperando, incerta, que tu venhas e me demovas
Enquanto gasto-nos - a mim e a ti - noutras alcovas

Pois se me tens, pões-me - feroz - em feroz febre
Se não me tens, em febre imploro que me leves
E se eu corro, anseio esconder seguinte apelo:
Vem e me mata, dá-me amor, cala-me o zelo!