domingo, 29 de março de 2009

Destilada Solidão

Outro dia um velho amigo encontrou-me no salão
Disse-me que eu estava demasiado bêbado
Suplicou que eu fosse embora
Disse me querer privar de confusão
Eu - pouco levando em consideração -
Voltei-me para os casais apaixonados
Rodopiando levemente no tablado
De repente, fui ao chão
Num fluir inconsciente
quase impertinente
perguntei para o garçom
Se o que ele me servia
era vodca ou melancolia
Perguntei-lhe - meio ébrio, meio não -
Se a minha embriaguez
Tinha se dado sem razão
Se o que me derrubara fora cachaça
ou dose nevrálgica de destilada solidão


quarta-feira, 25 de março de 2009

Abrigo-me em casa sem paredes e teto

Que fique claro de mim tão somente o inverso
Para que acoite em nu desvão meus versos certos
Pois quando me minto enganando a ti o intento
Faço do peito leito para meus lamentos

E chego a quase enlouquecer de embriaguez
Lânguida lâmina afiada que me toma e me corta a tez
Se mais me entrego ao teu afã, teus devaneios
Perco-me inteira e tu, sem dó, dá-me volteios

Por mim, de ti, promovo uma fuga louca
Andando em círculos, com teu cheiro em minha roupa
Esperando, incerta, que tu venhas e me demovas
Enquanto gasto-nos - a mim e a ti - noutras alcovas

Pois se me tens, pões-me - feroz - em feroz febre
Se não me tens, em febre imploro que me leves
E se eu corro, anseio esconder seguinte apelo:
Vem e me mata, dá-me amor, cala-me o zelo!