quarta-feira, 25 de março de 2009

Abrigo-me em casa sem paredes e teto

Que fique claro de mim tão somente o inverso
Para que acoite em nu desvão meus versos certos
Pois quando me minto enganando a ti o intento
Faço do peito leito para meus lamentos

E chego a quase enlouquecer de embriaguez
Lânguida lâmina afiada que me toma e me corta a tez
Se mais me entrego ao teu afã, teus devaneios
Perco-me inteira e tu, sem dó, dá-me volteios

Por mim, de ti, promovo uma fuga louca
Andando em círculos, com teu cheiro em minha roupa
Esperando, incerta, que tu venhas e me demovas
Enquanto gasto-nos - a mim e a ti - noutras alcovas

Pois se me tens, pões-me - feroz - em feroz febre
Se não me tens, em febre imploro que me leves
E se eu corro, anseio esconder seguinte apelo:
Vem e me mata, dá-me amor, cala-me o zelo!

3 comentários:

  1. Sobre as desrimas em par:
    "As rimas nascem e morrem em par, como o eu-lírico e a quem ele se remete, é um amor desrimado, o querer não rima com a fuga, que não rima com a verdade, que, por sua vez, não rima sequer consigo e por aí vai."

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Hora ou outra leio alguma coisa tua e omito comentários desnecessários.
    Algumas coisas me agradam muito, outras nem tanto.
    Esse teu escrito eu li e tive que vir aqui pra falar que, porra, ficou muito bom!
    Parabéns!

    ResponderExcluir